segunda-feira, 14 de março de 2011

Amar na velocidade da luz

      Voltou do trabalho mais cedo que o normal. O elevador subiu, 4° andar, porta, chave, geladeira. Caminhando até o quarto, - Amor, viu sapato no chão, roupa e traição. Tão veloz chegou a vontade de chorar, foi embora. Embora fosse ele homem ausente, o casamento foi há cinco meses. Na mesma noite o bar dava-lhe raiva. Tequila, sinuca, a vontade de trair, - mas como se já nada existe. Vodca, briga, expulsão, outro bar, boa noite, ombro para chorar. Já era manhã quando dormiu. Ainda de manhã acordou, ressaca, saída. E no trabalho, abandonado, dá-se conta de que já não passa de um alcoólatra .

      Abandonada pelo estranho que afagou, desesperançou-se toda. Foi ao centro cirúrgico, vestiu jaleco, bisturi, - A paciente precisa de repouso, almoçou. Deu-se folga o resto do dia e foi ao parque ver o fim de tarde, veio o sol, vieram pombos, foi-se o sol e trouxe a lua. Era já por muitos redeixada. Antes, resolveu naquela manhã que iria mudar, mudou, não procurou se apaixonar, ofereceu-se ao marido da paciente, deu-lhe telefone, marcou na casa dela.

      Reparou que o marido esticava o tempo necessário no hospital. Ouvia que dormia à cabeceira, acordava não o via, ligou certa vez atendeu a doutora, era o fim. Não se recuperou bem da cirurgia e usava cadeira de rodas. Doíam as costas, uma pílula, doíam os braços, uma pílula, doía o coração, antes de tomar as pílulas necessárias internou-se numa clínica. Depois de um ano, liberada. Depois de cinco, dá palestras a outros viciados. Conheceu nas reuniões um coração partido. E abandonado.

*Só um bolo de histórias concomitantes que alguém perdeu.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Sentença da rotina

Canta. Pois não há no mundo voz
tão rouca que caiba em tão belo pescoço
que cobre a garganta cheia de nós
e cheia de nós que caimos no poço.

Pois se não vivo, morro

Chora. Para ver o desfile das mais belas
tempestades encantadas de harmonia
descendo abruptamente, apagando velas
e centelhas que faiscam da noite vazia.
Pois se não vivo, morro

Ora. Prontamente, não havendo miséria
à culpa divina se aplica tal merecimento e
atormentado da pobreza da humana epopeia
fatores todos levam ao nosso julgamento.
Pois se não vivo, morro

Ama. Prefere o poeta fazer.
Disposto a tudo olvidar por você.
Intérprete da alma; disse o condenado
Pois se: não vivo, amado.