Os homens sentavam-se em frente ao monumento central da praça e ocupavam as cadeiras e as mesas da calçada. Aquele café antigo, da Rua dos Comuns, não era popular senão pelos ferroviários exaustos que se amontoavam ali, mesmo só restando-lhes as forças de pensamento. Era que eles sentiam-se pouco, e logo se faziam luxo do café que tomavam, minguado, reclamado do tamanho, mas era café, num café, na praça. E eram duas ou três horas que ficavam, que durava o lanche enrolado em panos, que bateria o relógio se o tivessem no bolso de algum paletó. Arremedo de gente, dizia o garçom que ouvia lá de dentro de algum freguês: - arremedo!, e se sentia feliz, assim como os homens da ferrovia que precisavam estar na presença de outros para existir, para existirem, e sentiam-se felizes, todos ao mesmo instante.
Um tal homem usando monóculo de fim de século, com lenço, ombreira, descendo a rua em direção a casa, num fim de tarde; então os homens entreolhavam-se a pensar que ele perdera o chapéu - paravam, calados, atentos, num suspense que precede o êxtase, gritavam: - Feito o amor, esquecida a cartola, corre, corre, Senhor, já é hora. E estapeavam-se a rir bem alto, movendo-se o corpo a todos os lados, esticando a cara para frente, procurando noutra gargalhada a mesma certeza do riso, da felicidade, do instante e daquele inteiro momento pleno. Era só o que tinham. - que escritorzinho eu sou - Era tudo o que tinham! Era muito o que tinham! Era o mundo o que tinham! Era deles o mundo, não é mais, o deles morreu.