terça-feira, 28 de junho de 2011

Quem sabe

Um homem que nada sabe,
vive sem usar por que,
vive sem nem nunca temer,
livre e sem saber pra que


por não saber da morte, vive ainda qual menino
por jamais saber da sorte, aposta a vida em seu destino
de crescer e ser tão forte, feito caboclo nordestino.


Um homem que nada sabe,
vive sem porque lutar,
vive bem, no seu lugar,
livre, mesmo ao Deus dará


pode até ser caçoado, por seu não conhecimento
pode até viver ilhado, feito nós: apartamento
e mesmo desavisado, vencerá sem ter tormento.


O homem que assim o é,
que nada soube porque quis,
dos homens não sabe também que é
o peito vivo mais feliz.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Uma mulher com uma dor

A mulher é bicho, se debate como fosse para o abate
faz todos ouvirem seu grito, choro, canto, prende as unhas
quer mesmo é ver sangrar as dores muitas
Mulher é desespero, soca as paredes do corpo para fugir
do ser, da carne grossa, pele fina. Mulher que foge é heroína
quando não, sente-se qualquer com olhar triste sorriso enorme
que para se libertar da sombra que carrega apenas corre
Contra todos ela rema, mergulha e nada, só para poder voar
e se sentir parte inerente ao vento, à pipa
é 'inda capaz de negar sua beleza, pelo ouvinte mais atento
Pois a dor de uma mulher é sua coisa mais bonita

segunda-feira, 13 de junho de 2011

O orgulho-sertão

Augusto é de lá do Sertão das Dores.
Quando menino tropeiro da Fazenda levava as mulas para beber do rio. Era hora então de assoviar passarinho e chupar cana até não dar. Do alto da pedra vê de um lado a mulada do outro alçapão. Mais tarde às Terras Roxas do seu Tonico, seu quinhão era só meia água e dois pães duros.    A mãe espera da ribeira o filho menor que volta da labuta. A casa era sempre cheia de irmãos, uns que já apareciam grandes.

Augusto é lá do Sertão das Dores.
Depois que ganhou braço tratava do cultivo. Tinha faz-sombra de palha que punha na cabeça e que não o deixava ver nem metade do nasce e morre do sol, o qual sabia que vinha e ia todos os dias da plantação. A enxada estava calejada das suas mãos, e seu pé de sua enxada. Foi abrir a terra, foi botar semente, foi quem regava as plantas e já era da colheita.    A mãe espera da margem o filho mais velho que volta da planície. A recompensa do trabalho era maior mas menor que a família.

Augusto é do Sertão das Dores.
Fora prometido aumento do ganho se colhesse mais que um ano num só mês. Mas as nuvens foram egoísmo de tamanho inconfundível. Das alturas só a secura quem desceu à terra-pedra, que dar-se-ava nela nada. O patrão foi para capital levando o povo da Casa, deixando nem o padre para salvar do coisa ruim, deixando-lhe nem esperança para ver chegar a chuva.    A mãe espera do céu, o filho que não quer voltar.

Augusto é o Sertão das Dores.
E a borrasca que vem depois da seca inunda a região e a faz torrente. Vai levando o alçapão junto à enxada, levando as mulas que pastavam a plantação. Leva a sua casa e a Casa do homem-bom também. Do alpendre canta o passarinho um assovio qualquer de triste, e o filho agora espera do alto da pedra que a água não leva.