segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Tristão e Isolda


Soa uma nota,
a cada gota que pende da corda
tensionada no quintal
ela passa a noite inteira lá,
esperando quem vier pra resgatá-la.
Mas não vieram não.
O sereno as faz
pendurarem-se todas pela corda
ameaçam queda, toda vez que lhe tocam
a gota cai e a linha vibra,
posso ouvir na barriga que já é algum som.
E é outra gota e é outra nota,
despencando do varal, que me molha
Quando pode, sem que a observem,
recolhe uma ou duas gotas que prestem
armazena em um frasco e o tampa.

A menina é quem cuida, todos os dias
das gotas que moram no varal
Faz questão de coletar uma a uma,
quando é de manhã ainda
e guarda consigo bem escondido
para que não as descubram
durante o dia as carrega aonde vá
E lá vai sempre muito bem nessa tarefa,
mesmo com esbarrões que leva
não deixa nunca seu pote virar,
hora ou outra derrama um pouco,
mas é tão pouco, não se percebe
com a roupa logo trata de enxugar.

Contudo, chega ao fim a noite
repousa vagarosamente,
em sua cama, a única que tem,
mantém-se firme,
mas num leve golpe do cansaço
é desarmada pela lembrança,
se descuida
e derrama finalmente seu pote de gotas
que dizem ser de lágrimas.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

quem meneia? o braço firme de punho apertado é forte e meneia
o esqueleto prestes a se quebrar, e a água transbordando do copo
na areia a derrapar o carro que não freia, e o foco
vejo seus olhos dizendo que sim, enquanto eu digo não

quem ressona? do peito esculpido e bruto apesar da dureza ressona
a coisa elétrica toda ela esperneia, quer prosseguir na certeza
da escassez de argumentos, da força que imprime a leveza
ouço teus lábios mostrando que sim, enquanto eu vejo não

quem condena?
o homem que reprime os impulsos, ou os freios?
o garoto apenas? a mulher imprópria já desfeita dos ombros caídos?
quem condenaria a distância, vivendo o próximo impossível
o afasto dos gostos dos corpos, a resposta
não eu nem você



domingo, 28 de abril de 2013

O galo que tentou mudar seu turno, para que não cantasse mais pela manhã

Tal galo espinafrante de um frondoso cacarejo espanta
o arredio de manhã que nasce, quando foge ao galinheiro e, quieto,
lá também não canta, assim sempre silencia o seu passar do tempo.
E o porco dorme à lama sem despertar, pois o escuro céu se agiganta
triunfante, ainda é tão gritante a luz do sol que se arrebenta
muitas horas do dia passam, o sol retorna ao fim da curva e num momento
temo nunca mais reacordar. Misterioso é o som de galo que não ouço mais.
De repente, ao raso voo de espanadas, asas violentas se acomodam
no mais claro posto da estalagem, do alto é o galo e teu encanto indiscreto
cacarejo acomodado na garganta,  há muito na espera de tornar
eis lá ele inflado, eis lá do alto meu bom galo a concentrar, é três é dois
bem quando, é geral o esbravejo, fecham-lhe o cerco talvez dúzias de animais
- é noite, galo, aqui não cantarás, parte já dai para bem longe, que não morres mais!

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Razões

O homem é japonês, em todo magro corpo, transparece seu incomodo, ele treme. Um tanto depois ele caminha numa área com árvores a buscar sombras para sossegar, contudo não há jeito de consegui-lo, devido ao sol que as ilumina. Ele procura água também. Ele transporta um suporte para espadas antigas do século passado sem espadas antigas. Sua roupa semelhante as de samurais e ninjas mais que revelam sua origem, pois estando rasgadas, sugerem ainda alguma batalha com lâminas e quedas ao chão, há sangue nos panos que envolvem e formam sua trouxa na qual contém pequenos alimentos. Porém nunca foi guerreiro ancestral, essa minha história é recente, de homens incomodados buscando voltar ao lugar onde estiveram sempre. Contudo o japonês sabe enorme sua culpa, a família incapaz de perdoá-lo entristece-se diariamente por não poder também protege-lo. Animais observam estranho habitante adormecido entre folhas caídas sem produzir sons a ponto de despertá-lo. Ao seu redor agora estão uma espada, uma bacia com água daquela região, e objetos pessoais como foto, algum colar de linhas torcidas e um cantil. Quando é de manhã ele observa por bastante tempo as árvores e atira pedras com as mãos para espantar os pássaros das copas, que retornam logo, pois ali vivem. Ele perfura o corpo com a espada, morre em segundos.