segunda-feira, 7 de outubro de 2013
Tristão e Isolda
Soa uma nota,
a cada gota que pende da corda
tensionada no quintal
ela passa a noite inteira lá,
esperando quem vier pra resgatá-la.
Mas não vieram não.
O sereno as faz
pendurarem-se todas pela corda
ameaçam queda, toda vez que lhe tocam
a gota cai e a linha vibra,
posso ouvir na barriga que já é algum som.
E é outra gota e é outra nota,
despencando do varal, que me molha
Quando pode, sem que a observem,
recolhe uma ou duas gotas que prestem
armazena em um frasco e o tampa.
A menina é quem cuida, todos os dias
das gotas que moram no varal
Faz questão de coletar uma a uma,
quando é de manhã ainda
e guarda consigo bem escondido
para que não as descubram
durante o dia as carrega aonde vá
E lá vai sempre muito bem nessa tarefa,
mesmo com esbarrões que leva
não deixa nunca seu pote virar,
hora ou outra derrama um pouco,
mas é tão pouco, não se percebe
com a roupa logo trata de enxugar.
Contudo, chega ao fim a noite
repousa vagarosamente,
em sua cama, a única que tem,
mantém-se firme,
mas num leve golpe do cansaço
é desarmada pela lembrança,
se descuida
e derrama finalmente seu pote de gotas
que dizem ser de lágrimas.