segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Enclisados

Viu-me
Encantou-se
Falou-me
Beijou-me
Amamo-nos
Calamo-nos


Vi-te
Ecitei-me
Respondi-te
Beijei-te
Ficamo-nos
Calamo-nos


E depois de calados, foste embora e fiquei inerte.
Mas o meu samba mais bonito você não ouviu.

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Pra eu te amar

Basta eu dormir bem risonho e cansado de gargalhar
a madrugada cobrir-me lisa servindo-me de lençol
os sonhos serem inocentes sem nenhum desejo
acordar disposto e lembrar e te contar da noite
Basta o sol nascer bem cedo e iluminar bem quente o meu café
o suco estar docinho e amarelo de frescura
o pão não engordar com a manteiga que não mata
olhar-te bela comendo as uvas após o sono
Basta que ninguém colhas as flores dos jardins
que as abelhas proliferem de girassol em sol
e a altura da grandeza não me impeça de subir
o caminho ser alegre cheio de colorido
Basta ouvir notícias simples de uma nova exposição
o trabalho não cansar e o salário que rendesse
ser convidado pra uma festa e levá-la junto
a tarde não chover nem tão pouco acalorada
Basta o tempo que passar parar nas partes boas
as pessoas respeitarem a minha vontade de correr
todos os prédios se pintarem de azul
e voarmos a um pé de altura
Basta o jantar que mais caro fosse
só valesse a pena pela companhia minha
o passeio ser a pé pra descansar do tempo atoa
o céu estar desestrelado e que a lua soberana grite:
- Basta!

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Corpo e cores no deserto

E se meus olhos escorrem é porque declamam,
exclamam a dor que é te amar e não ser amado
coitado de mim - ouvi dizer alguém feliz
e quis por vezes muitas te encontrar em lugar aberto
deserto de valores, crenças, julgamentos e histerias
queria, lá, poder ter seu amor e as suas cores místicas;

E se meus lábios se ondulam é porque não acreditam
palpitam que você voltará em breve para mim
assim que alguém feliz resolver me dar a oportunidade
de a verdade dizer a você. O deserto então já será um lugar repleto
não de teto, nem paredes, nem amor e nem amores - cores é que terá
e será não só amarelo, mas o colorido me fará chorar;

E se meus braços não te podem levar é porque meu peito urra
empurra e te carrega de um jeito tão suave quanto o vento
no momento penso estar de novo naquele deserto de ausência
aparência de um lugar vazio, mas que não precisa ter ninguém
pois bem chegaremos e nosso abraço fará encher de outras cores o lugar!

domingo, 12 de dezembro de 2010

Soneto del vino

Em que reino, em que século, sob que silenciosa
conjunção dos astros, em que secreto dia
que o mármore não gravou, surgiu a fabulosa
e singular idéia de se inventar a alegria?

Jorge Luis Borges

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Monólogo sem falas ou Monólogo do não amor

   Acho que não deve ser de preocupar, logo passa, e se não passa, eu cuido até melhorar; e se não passa, o tempo passa e o leva, seja ele o que for. Não dizem?, "o tempo leva tudo". Mesmo assim tenho dúvidas, pois o tempo passa e ele permanece, come e engorda; mesmo assim tenho dúvidas, que agora são menores: agora as dúvidas são sobre o que ele quer; sobre o que ele quer tirar de mim, o que quer dar para mim. O tempo vai passando e ele ainda não foi.

     Acho também que ele é forte, veio forte e me derrubou. Assustado, vi que depois me deu a mão e me levantou; assustado, dei a mão e ele me jogou mais forte ainda para o outro canto. E depois do susto o coração não parou de bater acelerado, é como que tem alguma coisa prolongando o meu estado de adrenalina; prolongando a adrenalina que não me acelera, mas, sim, a que me deixa calmo para perceber o que tenho feito, que o tenho ignorado. E ele, tão próprio de si, me ensina a cada dia que ele é só um nome que dou para o que sinto. Ele é só o que tenho para tentar dizer:  - sim!, para aproveitar, para ver sair de mim a todo instante; o que sai de mim a todo instante é alguém que tem de saber entendê-lo. Mas não pode sozinho.

    E esse alguém sou eu. Sou o que saio de mim, para tentar explicar-me a mim mesmo esse instável que não passa; esse instável que não passa. E tento. E fico remoendo. E fico desenhando suas estruturas, suas ruas e prédios, suas paradas e esquinas; e as suas emboscadas me emboscam toda vez que ele aparece: alí. De pé e penteado. Com a audácia que só ele pode ter, vem correndo de braços abertos, e sorrindo com os maiores dentes do mundo: vem me dizer que não é o amor!           E diz de novo que não é amor!
                       Paro. Fecho os olhos. Como assim não é o amor? Pois se não é, o que é? 

   Não adianta que ele corre. Ele sempre tem saída, e nunca me responde. O tempo já vai passar novamente, já não vai levá-lo. E ele já vai me jogar de um lado para o outro, de uma esquina para outra, me arremessar pelas vielas. Vai engordar, ficar pesado e ficar. Seria mais fácil se fosse paixão, vergonha, ódio, amor, sentimento, ou objeto; mais fácil ainda se fosse segredo. Mas os meus olhos arregalam-se, e se o encaram é para tentar arrancar uma resposta; como não podem gritar de desespero, então choram. Mas não é segredo, e todos sabem e deveriam saber.

   - Porque teima em dizer que não é o amor, se me acorda no meio da noite e me diz nos sonhos que é maior que tudo? Por que teima em doer dentro do peito, se já me disse que não é o seu papel fazer isso? Porque não é o amor? Como não é amor, se cada vez que olho pelo buraco do peito está maior e mais firme, e crescendo e crescendo e me olha com cara feia, não quer sair. E nem quero que saia. Pois então me diga o que é.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

A recompensa

Agora sim lhe entendo Grande Amor
Vejo como o procurei em vão
Em sua busca, quanto não
Obtive seguido de dor

E que exista em tu o infinito
Posto que só o impossível te coube
Não me diz e nem me ouve
Mais que a ti, não há nada mais bonito

Por isso não me passaste perto
Vi de longe tua despedida
Mas sei que agora

é já sem hora
Pra lhe esquecer nessa vida
E me dar o fim como certo

sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Modelo de amor não deu certo

Para amar Mariana bastou-me estar distraído
Fiz um desenho com a mão errada
Disse que ia pra longe, voltaria logo
Passou o tempo esqueci
Para amar Carolina procurei a beleza
Fiz um desenho com a mão errada
Disse que ja tinha outro
A beleza sumiu depois


Para amar Juliana o dia nasceu amarelo
Fiz um desenho com a mão errada
Disse que gosta do que eu também
Fui forçado ao descaso

Para amar Beatriz foi tiro no escuro
Fiz um desenho com a mão errada
Disse que trabalhava sem hora
Bati o ponto a tempo

Para amar Cristina toquei um fado
Fiz um desenho com a mão errada
Disse que cantava a morte
Vestiu de preto o corpo todo

Para amar Colombina colei o desenho
Escrito Pierrot á procura debaixo
Disse ao outro que pode chorar
Arlequim doído pegou o lenço

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Certo dia o ouvi

- Olha flor, antes de tirar-te o chão quero dizer uma verdade ou outra. Saibas que daqui do jardim tua beleza não é a que mais desperta o interesse dos outros; tens o cheiro um tanto enjoativo, daqueles que basta sentir uma vez pra querê-lo cada vez mais longe; tuas pétalas estão manchadas em preto; e além de teu vermelho estar sujo feito terra, tu só tens um espinho bem pequeno. Como pode, uma flor só ter um espinho? [...] Quero também dizer, oh tua flor, que na tua idade deverias estar radiante como a luz que atravessa as nuvens; deverias ser a mais procurada da região, e quando encontrada: Deverias esgueirar-te e seduzir a quem quer que fosse; deverias, tua pequena murcha, nesta mesma idade, ser disputada por todos os insetos e proliferar-te pelos campos mais diversos, fazendo um mundo de seus descendentes. Porém, ficas aí. Como esperas que alguém te queira assim? [...] E mais um posto: Venho me perguntando o motivo de estares tão sozinha nesse canto do jardim. Pareces uma planta repulsiva, a qual nenhuma outra se atreve nascer por perto. Serás tão egoísta a ponto de não dividires os minerais? Transmites uma solidão que nem sei explicar: Todos do outro lado estão comemorando, polinizando, respirando; e tu estás aqui debaixo desta árvore que nem se importa contigo. Achas mesmo que no mundo haja um que te queira? [...] Pois bem rosa, vou dizer-te de uma vez o que quero. Sabes bem e mais que ninguém, que ao dar-te, estarás morta; ao puxar-te do chão será seu fim e não mais voltarás a florecer, serás já sem vida neste instante. E por não ser meu intuito dizer que meu amor começará morto como a rosa dada, que será inevitável, assim como tu secares e murchares, que ele se esvaia depois de um tempo, peço então para ti, oh flor: Faça-te imponente, enfrente-me a tal altura e não te rendas enquanto ainda tiveres vida. Atinja-me, pequena planta, com seu espinho único; e faça do meu gesto uma vitória épica para que me tenham, um dia, gosto.


   E sem esperar pela resposta cortou-lhe o caule de uma só vez. Tocou a campainha e então eu pude ver o rosto da voz. Ele a entregou-me, mas eu não o quis. Fechei a porta, e sentada junto a ela, ninei a rosa em meus braços.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Fases

A história de desencontros

Começa quando ele a quer, porém não toma providência alguma. Só faz pensar, na menina de flores, por todo o dia e por toda noite; e à tardinha inclusive. Nunca amou ninguém e não sabe por onde começar. Assim, relendo poemas de amores mal iniciados e de declarações frustradas, encontra motivos pra querê-la mais; imagina o amor que a daria.
Derrete-se de paixão.

Ela, tão sentimental quanto ele: amou muito por tempos atrás e se conseguira finalmente ser feliz, viu que deu muito trabalho. O conhece então com essa premissa de que não mais se entregaria. Passa os dias então o esperando para dar-lhe o que ele quer de uma vez. E pra não ter titubeios nem outros intermédios com joguinhos de criança, usa-o.
Entrega-lhe um beijo.

A transição     

Se dá quando ele é surpreendido, apesar de ter sonhado com isso, pelo beijo da menina branca. Já sabendo que é amor, se torna inteiro trovador; poeta, florista e compositor. Mas pelas reações dela não entende o que faz errado; porque não é igualmente retribuído? Percebe-se que anda exagerado e promete conter-se. Apesar da tortura que e amá-la, não diminui nada no carinho dado.  

Derrete-se na dúvida.

Satisfeita pelo beijo conseguido, tenta fugir da história outrora vivida. De início o ignora e pede pra que não exagere na tentativa de iludi-la, apesar de saber no fundo que ele é sincero. Teme se doar e não receber carinho de volta. Apesar da resistência percebe a paixão que chegou para ela. Define as regras e diz como ele deve agir a partir dali. Em seguida aceita, com o pé atrás, o amor que a inquieta.

Entrega-lhe o coração
Tempos de fim

É porque negou de todas as maneiras, no início, mas cedeu aos pedidos e conformes dela. Longe da caneta e do violão, abre mão de si. Diz que a ama quando pede e se não pede fica quieto. Não perdeu o amor, mas não tem vontade de dizer; não passa noites em claro pensando nela; e reaprendeu a dizer não. Parece estar mais ausente que nunca. Fica dias sem chamar e quando chega, logo vai.

Derrete-se quando convém.

Finalmente, como queria, ele é perfeito. Foi difícil, mas agora acabaram as gracinhas dele. Sentia de dentro um calor indescritível que a apavorava, mas não recebe mais flores nem é musa de poemas, o calor se esvai. Aquieta-se enfim, pensando no que faz para perder o homem que ama. Por não o aceitar como o faz parecer, agora chora por ele não ser o cara inventivo, que nunca se ia. 

Entrega-lhe o que mais ninguém tem.


domingo, 3 de outubro de 2010

O beu cabelo


é que quando você aparece
vem-me dizer nada e já enlouquece
faz-te pequena e desengonçada
tem a cabeleira inteira embolada

é que fecha os olhos toda chorosa
vem-me bater a mão de unha pintada
faz-te arrependida da fúria cantada
tem a cabeleira que se anuncia prosa

é que beija usando a mão delicada
vem-me e arrepia sempre do mesmo jeito
faz-te em pedacinhos que eu vou catar

a cabeleira é pra ser cheirada
a cabeleira é pra ser avistada
a cabeleira da minha amada

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Me, explico vivo

e se de tanto naufragar, enjoei
depois de tanto procurar, não achei
  sua cara linda a pintar, me neguei
ir sem você navegar!

e se de tanto querer, me perdi
dentro do seu calor, o que eu vivi
me serviu de lição pra contar, por ai
onde você ancorou!

e se hoje não te tenho, mais
vale a pena lembrar, de você
quero um mergulho no mar, pra te ver
quando poema secar!