segunda-feira, 25 de julho de 2011

Um curta em plano-sequência

O clássico homem observa o mar e vai contornando a orla a fim de despistar suas lembranças até chegar a casa onde lava os pés de areia para não sujar o reluzente chão que o bebê usa para engatinhar em busca de sua única e necessária mamadeira resfriada pela mãe com duas gotas sobre o pulso magro esquerdo e maqueado tanto para esconder os cortes de sua ilusão contínua e diária como para revelar sua beleza esguia no espelho que reflete o clássico homem chegar ao quarto com a sua testa franzida sem motivos óbvios e com os pés ainda molhados marcando o carpete usado pelo bebê que busca seu alimento nos dois peitos sempre bem guardados e vestidos com as modernas peças de sua mãe já produzida e fumando seu cigarro para não transparecer sua frágil e permanente felicidade junto ao clássico homem que no mesmo instante sai do banho arrumado em seu semblante esfíngico e desce em direção a porta pela qual acabara de chegar deixando órfão o bebê que continuará buscando a comida da mãe que o clássico homem não alimenta.