Nas fundezas de um país
ou de um lugar que é bonito
tem lá muitos homens-pouco
que nos papel não se pinta
é sangue de pouca tinta
que não vale nem um escrito
nem seus feitos nem suas coisas
que é mato, grama, moita, é terra!
e ninguém preocupa: que não pode
Tem homem que vai embora,
novo, e nunca mais que volta
teima de esquecer da família
é sangue de pouca tinta
que não escreve memória, cê vê...
pra se alembrar só no retrato
que na cidade tem muito,
é mundão, e os escrito são grande
Eu num vejo o sertão é nunquinha
lá não vou mais que não quero
que não posso, que me esperam
é distante a viagem demais,
se um dia eu tiver filho que der pros escrito
vou dizer, mesmo que muito sinta:
- és sangue de pouca tinta
domingo, 30 de setembro de 2012
segunda-feira, 24 de setembro de 2012
Prosa média
Assim, de repente, as pessoas perderam suas vontades.
Não havia mais o som, nem a figura, a cor não existia. Jogaram as tintas todas nos rios, que se tornaram mar, e as fotos dos momentos vividos desbotaram. O movimento perdeu a razão, o gosto deixou de existir, deixaram de existir também os gestos, não tardou e a linguagem se foi. A luz foi indo-se embora junto dos escuros, levaram o tempo, o perdão e o silêncio. Das histórias se esqueceram, dos nomes se desprenderam, dos amores se fugiram. A liberdade já não era tão vistosa, era cara, era tanta, e ninguém quis, e morreu. E os sonhos dos meninos das pessoas acordaram, as rugas da velhice das pessoas se apagaram, as culpas dos pecados das pessoas, absolvição. Ninguém mais juntou versos. As cordas estavam esticadas e um homem as desafinou, alegou moralismo. Só existia no mundo as certezas, que eram muitas e enormes e as crianças as tomavam como sombra. O depois, o antes e o agora, na fusão da vida, se uniram no que disseram chamar saudade. E era tanta falta, tanto arrependimento, tanto remorso, tanta saudade de tudo que não há mais e de tudo que ainda poderia existir mais para frente, que os homens, naquele surto de quase morrer de saudade, se sentiram obrigados a criar.
Não havia mais o som, nem a figura, a cor não existia. Jogaram as tintas todas nos rios, que se tornaram mar, e as fotos dos momentos vividos desbotaram. O movimento perdeu a razão, o gosto deixou de existir, deixaram de existir também os gestos, não tardou e a linguagem se foi. A luz foi indo-se embora junto dos escuros, levaram o tempo, o perdão e o silêncio. Das histórias se esqueceram, dos nomes se desprenderam, dos amores se fugiram. A liberdade já não era tão vistosa, era cara, era tanta, e ninguém quis, e morreu. E os sonhos dos meninos das pessoas acordaram, as rugas da velhice das pessoas se apagaram, as culpas dos pecados das pessoas, absolvição. Ninguém mais juntou versos. As cordas estavam esticadas e um homem as desafinou, alegou moralismo. Só existia no mundo as certezas, que eram muitas e enormes e as crianças as tomavam como sombra. O depois, o antes e o agora, na fusão da vida, se uniram no que disseram chamar saudade. E era tanta falta, tanto arrependimento, tanto remorso, tanta saudade de tudo que não há mais e de tudo que ainda poderia existir mais para frente, que os homens, naquele surto de quase morrer de saudade, se sentiram obrigados a criar.
terça-feira, 18 de setembro de 2012
Mais livre me sinto que morte
Há sempre quem compre alguém
há sempre quem lembre do bem
pra sempre se rompe o além
vá lembre que ainda me tem
vá tente me ser alguém
contente me volte zen
Criança perdida no mato
criança advinda do parto
vi dança esquisita no mato
na frança perdi meu sapato
herança crescida no ato
finanças de todos os lados
Doença de cão enjoado
Convença do não Seu Geraldo
Conversa de irmão premiado
Vou nessa tão são internado
Promessa de não fazer fado
Prometa a seu tão bem amado
Pintura completa instantânea
Cultura em poeta se assanha
Mistura secreta champanha
Usura afeta a campanha
tontura cagueta a montanha
textura me aperta e arranha
Da morte me sinto mais livre
Mais livre me sinto da morte
Me sinto mais morte que livre
Mais livre me sinto que morte
há sempre quem lembre do bem
pra sempre se rompe o além
vá lembre que ainda me tem
vá tente me ser alguém
contente me volte zen
Criança perdida no mato
criança advinda do parto
vi dança esquisita no mato
na frança perdi meu sapato
herança crescida no ato
finanças de todos os lados
Doença de cão enjoado
Convença do não Seu Geraldo
Conversa de irmão premiado
Vou nessa tão são internado
Promessa de não fazer fado
Prometa a seu tão bem amado
Pintura completa instantânea
Cultura em poeta se assanha
Mistura secreta champanha
Usura afeta a campanha
tontura cagueta a montanha
textura me aperta e arranha
Da morte me sinto mais livre
Mais livre me sinto da morte
Me sinto mais morte que livre
Mais livre me sinto que morte
quarta-feira, 5 de setembro de 2012
Chama, Maria, chama, chama rápido, Maria, chama que ele atende, chama logo, chama mais, chama, Maria, chama com vontade, grita, grita, Maria, anda, grita logo, grita, Maria, grita que ele atende, grita, isso, grita, Maria, grita pra fora que ele escuta, grita bem alto, grita sem medo, Maria, grita, Maria, grita, grita muito, berra então de uma vez, berra, Maria, berra, Maria, berra!
Então ele foi embora de volta pro Ceará.
Então ele foi embora de volta pro Ceará.
terça-feira, 4 de setembro de 2012
Discórdia
Eram mãos atentas apostas para reação a qualquer maior movimento. O braço entrelaça o pescoço do refém apertado, é nó na garganta e impaciência. São também apressados olhares aos lados, a cima, ao homem ameaçado, ao relógio, mas não se pode nem reparar no homem o que faz e nem nas horas. Passam cães saídos de outros becos que ali vão para saber dos ruídos que ouviam se eram lixo fresco. E na verdade eram dois homens de pés juntos fazendo força, um deles com uma faca contra o peito do outro, estagnados pelo medo de matar e de morrer. Não mais se olhavam porque um deu as costas; dois homens, se imaginando nervosos pelas mãos que sentiam tocá-los, pela força que faziam e que recebiam. Um segurava o outro por trás, impondo-lhe uma faca a vista, o outro resistia à verdade. É beco escuro e som estrondo de latão derrubado, quem seria ali se não animais fazendo barulho? Os homens que tinham nas mãos do outro a própria vida: - Te mato ou cala a boca.
O silêncio da cidade fugia inteiro àquela viela de sacos de lixo e o tempo passava. Tanta força depois, o homem quase morto esfalecia, ameaçava cair de tonto, num desmaio de fraqueza. Mas o tranco que levava de leve da faca contra o peito o deixava sóbrio afinal. Aquilo era cena de crime, antes do crime. Parecia que o dono da faca era o único com poder de escolha, poderia matar ou não. Era a arma que lhe dava a dúvida e a resposta. No entanto, da vitima veio o apelo, me mate. Num minuto o homem esquecia da faca, da vingança, do potencial assassinato, notou a carne que também formava o homem quase bicho, aquele acuo de gente indefeso.
A semelhança entre a fera do homem armado e o arredio de medo daquele incapaz promoveu estranhamento nos dois. De trás, o primeiro, não mais em posição de ataque, recuava incessante numa fuga momentânea de desespero, para o vácuo impróprio, de não haver nem corpo nem gente. E o antes cansado segundo homem, agora, rompia o frescurão da noite numa chama de energias, a vida e o poder lhe concedendo a mágica-triunfo do adeus, de poder partir e remoçar-se mesmo assim.
Tudo porque as mãos tocaram-se, antebraços esbarraram-se, ombro em peito, costas em pernas, inteiro contato e o suor perpassado de algumas roupas à face com barba.
O silêncio da cidade fugia inteiro àquela viela de sacos de lixo e o tempo passava. Tanta força depois, o homem quase morto esfalecia, ameaçava cair de tonto, num desmaio de fraqueza. Mas o tranco que levava de leve da faca contra o peito o deixava sóbrio afinal. Aquilo era cena de crime, antes do crime. Parecia que o dono da faca era o único com poder de escolha, poderia matar ou não. Era a arma que lhe dava a dúvida e a resposta. No entanto, da vitima veio o apelo, me mate. Num minuto o homem esquecia da faca, da vingança, do potencial assassinato, notou a carne que também formava o homem quase bicho, aquele acuo de gente indefeso.
A semelhança entre a fera do homem armado e o arredio de medo daquele incapaz promoveu estranhamento nos dois. De trás, o primeiro, não mais em posição de ataque, recuava incessante numa fuga momentânea de desespero, para o vácuo impróprio, de não haver nem corpo nem gente. E o antes cansado segundo homem, agora, rompia o frescurão da noite numa chama de energias, a vida e o poder lhe concedendo a mágica-triunfo do adeus, de poder partir e remoçar-se mesmo assim.
Tudo porque as mãos tocaram-se, antebraços esbarraram-se, ombro em peito, costas em pernas, inteiro contato e o suor perpassado de algumas roupas à face com barba.
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