Eram mãos atentas apostas para reação a qualquer maior movimento. O braço entrelaça o pescoço do refém apertado, é nó na garganta e impaciência. São também apressados olhares aos lados, a cima, ao homem ameaçado, ao relógio, mas não se pode nem reparar no homem o que faz e nem nas horas. Passam cães saídos de outros becos que ali vão para saber dos ruídos que ouviam se eram lixo fresco. E na verdade eram dois homens de pés juntos fazendo força, um deles com uma faca contra o peito do outro, estagnados pelo medo de matar e de morrer. Não mais se olhavam porque um deu as costas; dois homens, se imaginando nervosos pelas mãos que sentiam tocá-los, pela força que faziam e que recebiam. Um segurava o outro por trás, impondo-lhe uma faca a vista, o outro resistia à verdade. É beco escuro e som estrondo de latão derrubado, quem seria ali se não animais fazendo barulho? Os homens que tinham nas mãos do outro a própria vida: - Te mato ou cala a boca.
O silêncio da cidade fugia inteiro àquela viela de sacos de lixo e o tempo passava. Tanta força depois, o homem quase morto esfalecia, ameaçava cair de tonto, num desmaio de fraqueza. Mas o tranco que levava de leve da faca contra o peito o deixava sóbrio afinal. Aquilo era cena de crime, antes do crime. Parecia que o dono da faca era o único com poder de escolha, poderia matar ou não. Era a arma que lhe dava a dúvida e a resposta. No entanto, da vitima veio o apelo, me mate. Num minuto o homem esquecia da faca, da vingança, do potencial assassinato, notou a carne que também formava o homem quase bicho, aquele acuo de gente indefeso.
A semelhança entre a fera do homem armado e o arredio de medo daquele incapaz promoveu estranhamento nos dois. De trás, o primeiro, não mais em posição de ataque, recuava incessante numa fuga momentânea de desespero, para o vácuo impróprio, de não haver nem corpo nem gente. E o antes cansado segundo homem, agora, rompia o frescurão da noite numa chama de energias, a vida e o poder lhe concedendo a mágica-triunfo do adeus, de poder partir e remoçar-se mesmo assim.
Tudo porque as mãos tocaram-se, antebraços esbarraram-se, ombro em peito, costas em pernas, inteiro contato e o suor perpassado de algumas roupas à face com barba.