Há algum tempo sem perceber
o mundo deles tomou rumo diferente
como fosse calculado, alguém que tudo vê
agendou tristeza no cotidiano dessa gente
e porque?
Cômodos e eletrônicos têm uso exclusivo
alguém estuda no quarto, alguém na sala vê tv
procuram respostas nos livros
quando do outro bastava querer saber.
Em cada lugar, cada um; e cada um, uma ilha
Logo, nunca mais voltam a ser
o que se chamava família.
quarta-feira, 23 de novembro de 2011
quinta-feira, 3 de novembro de 2011
O maior mistério do poema
De palmas vazias
alguns homens aguardam a comida,
o dinheiro, o aceno em resposta
mas há sempre dentre as palmas
mãos apressadas que não esperam
conduzem as letras e as dão aos homens
de vistas vazias
que primeiro se ofuscam e se doem
querem se fechar para não ver
mas há sempre dentre as vistas
olhos curiosos a permitir
que as letras conquistem os homens
de corações vazios
homens
de corações sozinhos
homens, só homens
que sempre esperam
com as palmas, com as vistas
e de coração.
alguns homens aguardam a comida,
o dinheiro, o aceno em resposta
mas há sempre dentre as palmas
mãos apressadas que não esperam
conduzem as letras e as dão aos homens
de vistas vazias
que primeiro se ofuscam e se doem
querem se fechar para não ver
mas há sempre dentre as vistas
olhos curiosos a permitir
que as letras conquistem os homens
de corações vazios
homens
de corações sozinhos
homens, só homens
que sempre esperam
com as palmas, com as vistas
e de coração.
sábado, 10 de setembro de 2011
Transbordar
Como as janelas estão abertas,
resta ao homem desfazer-se da cortina
e seu aceno tranquilo anuncia que é feliz.
Então, pela manhã, a rua logo o entende,
retruca com vento nas folhas,
que balançam novas sombras sobre a janela.
Há certa luz percorrendo as pessoas
embrenhando-se nelas também.
Já eu, lá, distante. Receoso em interromper a total harmonia, sou breve.
O homem desce da janela e ganha outros rostos,
que concordam com seu caminhar ereto, calmo, correto.
Há certa leveza em seu tratar com a cidade,
e as árvores gigantes da calçada entendem isso.
Segue a jornada sem saber o fim,
desconhece o destino e a razão de havê-lo;
e basta, toda paz que sente é real.
A ideia de fazer parte do mundo me assalta, mas só caibo mesmo pelo contraste.
Em algum momento, tropeça,
o homem perde o passo, e a cidade não aceita.
Tenta ridiculamente voltar para todos os seus reais amores,
e vê que mãos desconhecidas os afagam.
Mira a sua voz na direção da cidade e chama pelos rostos familiares,
porém, o som das folhas nas árvores gigantes é mais alto, o tortura.
Ele fica impaciente, rói os próprios ouvidos para não escutar.
Agora, está em frente aos fechados portões, também gigantes, da cidade.
Do lado de fora, pela primeira vez,
não faz parte da felicidade.
Quando volta o olhar para a direção contrária a da cidade,
enxerga um mundo desconhecido,
de outros, como eu, talvez-homens.
E por último, ele chora.
resta ao homem desfazer-se da cortina
e seu aceno tranquilo anuncia que é feliz.
Então, pela manhã, a rua logo o entende,
retruca com vento nas folhas,
que balançam novas sombras sobre a janela.
Há certa luz percorrendo as pessoas
embrenhando-se nelas também.
Já eu, lá, distante. Receoso em interromper a total harmonia, sou breve.
O homem desce da janela e ganha outros rostos,
que concordam com seu caminhar ereto, calmo, correto.
Há certa leveza em seu tratar com a cidade,
e as árvores gigantes da calçada entendem isso.
Segue a jornada sem saber o fim,
desconhece o destino e a razão de havê-lo;
e basta, toda paz que sente é real.
A ideia de fazer parte do mundo me assalta, mas só caibo mesmo pelo contraste.
Em algum momento, tropeça,
o homem perde o passo, e a cidade não aceita.
Tenta ridiculamente voltar para todos os seus reais amores,
e vê que mãos desconhecidas os afagam.
Mira a sua voz na direção da cidade e chama pelos rostos familiares,
porém, o som das folhas nas árvores gigantes é mais alto, o tortura.
Ele fica impaciente, rói os próprios ouvidos para não escutar.
Agora, está em frente aos fechados portões, também gigantes, da cidade.
Do lado de fora, pela primeira vez,
não faz parte da felicidade.
Quando volta o olhar para a direção contrária a da cidade,
enxerga um mundo desconhecido,
de outros, como eu, talvez-homens.
E por último, ele chora.
domingo, 28 de agosto de 2011
A porta, o arquipélago
Trava. Destrava a tranca, tranca logo depois. Trava a tranca,
o trinco fica aberto mesmo. O trinco não fecha, pois senão não abre.
Fecha a trinca que alguém entra quando fica aberta, o trinco não!
O trinco ninguém abre, por isso ninguém fecha, mas fecha a trinca que alguém entra.
Fechado feito fecho. Eu não fecho porque estou dentro mas você fecha quando for,
trinca e fecho estão travados pois ainda estamos trancafiados aqui.
O trinco destravava quando se fechava. O trinco agora travou,
e ninguém tranca quando sai, apenas fecha. Mas quando tranca,
fecha o trinco e aí ninguém,
ninguém abre a porta.
Hoje sei que não sou ilha. Toda atitude altruísta é válida, é única, só existe
Eu seria mais de mim sem outros tantos? Não
posso responder a mil perguntas, mas todas são respostas a alguém.
O outro, inimigo ou pedra ou gente, vive por mim também
então nunca mais o nego. Sou por você, meu outro ser.
Faço sempre por você, mato por você, e machuco os outros
por eles e por você. Não sou: só reflito pele, músculos, pelos.
Meus pés, e os seus, os deles, estão molhados, pois nos movemos juntos.
Tenho terra para plantar, muita comida é para você: Outro.
o trinco fica aberto mesmo. O trinco não fecha, pois senão não abre.
Fecha a trinca que alguém entra quando fica aberta, o trinco não!
O trinco ninguém abre, por isso ninguém fecha, mas fecha a trinca que alguém entra.
Fechado feito fecho. Eu não fecho porque estou dentro mas você fecha quando for,
trinca e fecho estão travados pois ainda estamos trancafiados aqui.
O trinco destravava quando se fechava. O trinco agora travou,
e ninguém tranca quando sai, apenas fecha. Mas quando tranca,
fecha o trinco e aí ninguém,
ninguém abre a porta.
Hoje sei que não sou ilha. Toda atitude altruísta é válida, é única, só existe
Eu seria mais de mim sem outros tantos? Não
posso responder a mil perguntas, mas todas são respostas a alguém.
O outro, inimigo ou pedra ou gente, vive por mim também
então nunca mais o nego. Sou por você, meu outro ser.
Faço sempre por você, mato por você, e machuco os outros
por eles e por você. Não sou: só reflito pele, músculos, pelos.
Meus pés, e os seus, os deles, estão molhados, pois nos movemos juntos.
Tenho terra para plantar, muita comida é para você: Outro.
terça-feira, 16 de agosto de 2011
Um dos três
1.
o tempo é como vinho
leva tempo até poder desfrutar
já a poesia é como água
nasce assim de todo lugar
mas alguém ainda faz o milagre
de poesia fazer tempo virar
2.
outro dia caiu um homem do meu lado
na calçada e de cabeça
tinha pulado do prédio para desestressar
que pessoal indelicado
inventam sempre uma modinha
e ninguém nem para me contar
fui pesquisar e descobri que até faz bem à saúde
se chama suicídio ocupacional
e já usam na medicina
por isso agora
para fugir do tédio
uso sempre aquele prédio alí na esquinasegunda-feira, 8 de agosto de 2011
Urbanismo
Estou correndo velozmente até que me param
Uma mão acena do outro lado
A rua me nega passagem, mas sigo
Viro a esquina e já não há vaga
E quero comer, pedir depressa
Estaciono e faço parte do mar de gente
Que não é gentil, eles também comeram depressa
Dentro de prédios não se sabe para quem trabalhamos
As horas são passadas a força
Denovo pela rua, não existe horizonte na cidade
Compro remédios para o estômago
Pessoas nunca gostam de ler livros grossos
Dou moeda ao malabarista, uma grande
A moto do menino cai pela canaleta
Acelero em todas as vinte e quatro horas do dia
Calculo o tempo de viagem até lhe encontrar:
- Não, você não acenou para mim. Eu teria visto.
segunda-feira, 25 de julho de 2011
Um curta em plano-sequência
O clássico homem observa o mar e vai contornando a orla a fim de despistar suas lembranças até chegar a casa onde lava os pés de areia para não sujar o reluzente chão que o bebê usa para engatinhar em busca de sua única e necessária mamadeira resfriada pela mãe com duas gotas sobre o pulso magro esquerdo e maqueado tanto para esconder os cortes de sua ilusão contínua e diária como para revelar sua beleza esguia no espelho que reflete o clássico homem chegar ao quarto com a sua testa franzida sem motivos óbvios e com os pés ainda molhados marcando o carpete usado pelo bebê que busca seu alimento nos dois peitos sempre bem guardados e vestidos com as modernas peças de sua mãe já produzida e fumando seu cigarro para não transparecer sua frágil e permanente felicidade junto ao clássico homem que no mesmo instante sai do banho arrumado em seu semblante esfíngico e desce em direção a porta pela qual acabara de chegar deixando órfão o bebê que continuará buscando a comida da mãe que o clássico homem não alimenta.
terça-feira, 5 de julho de 2011
Guerra ou não
Que tem um homem para falar da guerra que viveu, se não a dor que sente ao olhar para trás?
Pela cidade onde vivia andava devagar disperso, sem nada lhe fazer cansar
mirando sempre ao longe para entender o todo, seu rosto disposto
diante à praça emocionava pelo violão chorado o ouvido atento de qualquer passante
vida que seguia parecia distante porque o tempo devagar andava antes
e fez tudo para o amor durar e emoldurar a foto sua de casamento
sua mulher e seus três filhos tão meninos mal sabiam o destinto seu, quanto ao pai
que desconhecia xingamentos, quando ouviu logo logo se arrependeu
Mas sem compreender matar chamado fora a guerrear, e pela mão do comandante
aprendeu que para viver se corre, se não morre e se perde o coração
então, ao treinamento deu-se inteiro pois no mesmo mês fevereiro já havia começado
passando os anos e sem retorno à casa a dor dificilmente passa, do amor fica a lembrança
de não mais poder voltar, foi aí que entregou-se ao seu destino chamou Deus de cretino
foi na frente da defesa mirou só na cabeça e ninguém pôde lhe deter
O peito, agora, não suporta mais o peso desse remorso que invade a alma e atordoa, é triste
quando está a toa é impossível não lembrar, mas a chorar resiste por saber ainda cantar
sua voz hoje em dia é rouca, a poesia é pouca comparada aos tempos de outrora
morreu além da melodia, quem sempre lhe aguardou à mesa para jantar, sua família
punha a mesa todo dia e esperava da guerra voltar o pai que não vinha.
Pela cidade onde vivia andava devagar disperso, sem nada lhe fazer cansar
mirando sempre ao longe para entender o todo, seu rosto disposto
diante à praça emocionava pelo violão chorado o ouvido atento de qualquer passante
vida que seguia parecia distante porque o tempo devagar andava antes
e fez tudo para o amor durar e emoldurar a foto sua de casamento
sua mulher e seus três filhos tão meninos mal sabiam o destinto seu, quanto ao pai
que desconhecia xingamentos, quando ouviu logo logo se arrependeu
Mas sem compreender matar chamado fora a guerrear, e pela mão do comandante
aprendeu que para viver se corre, se não morre e se perde o coração
então, ao treinamento deu-se inteiro pois no mesmo mês fevereiro já havia começado
passando os anos e sem retorno à casa a dor dificilmente passa, do amor fica a lembrança
de não mais poder voltar, foi aí que entregou-se ao seu destino chamou Deus de cretino
foi na frente da defesa mirou só na cabeça e ninguém pôde lhe deter
O peito, agora, não suporta mais o peso desse remorso que invade a alma e atordoa, é triste
quando está a toa é impossível não lembrar, mas a chorar resiste por saber ainda cantar
sua voz hoje em dia é rouca, a poesia é pouca comparada aos tempos de outrora
morreu além da melodia, quem sempre lhe aguardou à mesa para jantar, sua família
punha a mesa todo dia e esperava da guerra voltar o pai que não vinha.
terça-feira, 28 de junho de 2011
Quem sabe
Um homem que nada sabe,
vive sem usar por que,
vive sem nem nunca temer,
livre e sem saber pra que
por não saber da morte, vive ainda qual menino
por jamais saber da sorte, aposta a vida em seu destino
de crescer e ser tão forte, feito caboclo nordestino.
Um homem que nada sabe,
vive sem porque lutar,
vive bem, no seu lugar,
livre, mesmo ao Deus dará
pode até ser caçoado, por seu não conhecimento
pode até viver ilhado, feito nós: apartamento
e mesmo desavisado, vencerá sem ter tormento.
O homem que assim o é,
que nada soube porque quis,
dos homens não sabe também que é
o peito vivo mais feliz.
vive sem usar por que,
vive sem nem nunca temer,
livre e sem saber pra que
por não saber da morte, vive ainda qual menino
por jamais saber da sorte, aposta a vida em seu destino
de crescer e ser tão forte, feito caboclo nordestino.
Um homem que nada sabe,
vive sem porque lutar,
vive bem, no seu lugar,
livre, mesmo ao Deus dará
pode até ser caçoado, por seu não conhecimento
pode até viver ilhado, feito nós: apartamento
e mesmo desavisado, vencerá sem ter tormento.
O homem que assim o é,
que nada soube porque quis,
dos homens não sabe também que é
o peito vivo mais feliz.
sexta-feira, 17 de junho de 2011
Uma mulher com uma dor
A mulher é bicho, se debate como fosse para o abate
faz todos ouvirem seu grito, choro, canto, prende as unhas
quer mesmo é ver sangrar as dores muitas
Mulher é desespero, soca as paredes do corpo para fugir
do ser, da carne grossa, pele fina. Mulher que foge é heroína
quando não, sente-se qualquer com olhar triste sorriso enorme
que para se libertar da sombra que carrega apenas corre
Contra todos ela rema, mergulha e nada, só para poder voar
e se sentir parte inerente ao vento, à pipa
é 'inda capaz de negar sua beleza, pelo ouvinte mais atento
Pois a dor de uma mulher é sua coisa mais bonita
faz todos ouvirem seu grito, choro, canto, prende as unhas
quer mesmo é ver sangrar as dores muitas
Mulher é desespero, soca as paredes do corpo para fugir
do ser, da carne grossa, pele fina. Mulher que foge é heroína
quando não, sente-se qualquer com olhar triste sorriso enorme
que para se libertar da sombra que carrega apenas corre
Contra todos ela rema, mergulha e nada, só para poder voar
e se sentir parte inerente ao vento, à pipa
é 'inda capaz de negar sua beleza, pelo ouvinte mais atento
Pois a dor de uma mulher é sua coisa mais bonita
segunda-feira, 13 de junho de 2011
O orgulho-sertão
Augusto é de lá do Sertão das Dores.
Quando menino tropeiro da Fazenda levava as mulas para beber do rio. Era hora então de assoviar passarinho e chupar cana até não dar. Do alto da pedra vê de um lado a mulada do outro alçapão. Mais tarde às Terras Roxas do seu Tonico, seu quinhão era só meia água e dois pães duros. A mãe espera da ribeira o filho menor que volta da labuta. A casa era sempre cheia de irmãos, uns que já apareciam grandes.
Augusto é lá do Sertão das Dores.
Depois que ganhou braço tratava do cultivo. Tinha faz-sombra de palha que punha na cabeça e que não o deixava ver nem metade do nasce e morre do sol, o qual sabia que vinha e ia todos os dias da plantação. A enxada estava calejada das suas mãos, e seu pé de sua enxada. Foi abrir a terra, foi botar semente, foi quem regava as plantas e já era da colheita. A mãe espera da margem o filho mais velho que volta da planície. A recompensa do trabalho era maior mas menor que a família.
Augusto é do Sertão das Dores.
Fora prometido aumento do ganho se colhesse mais que um ano num só mês. Mas as nuvens foram egoísmo de tamanho inconfundível. Das alturas só a secura quem desceu à terra-pedra, que dar-se-ava nela nada. O patrão foi para capital levando o povo da Casa, deixando nem o padre para salvar do coisa ruim, deixando-lhe nem esperança para ver chegar a chuva. A mãe espera do céu, o filho que não quer voltar.
Augusto é o Sertão das Dores.
E a borrasca que vem depois da seca inunda a região e a faz torrente. Vai levando o alçapão junto à enxada, levando as mulas que pastavam a plantação. Leva a sua casa e a Casa do homem-bom também. Do alpendre canta o passarinho um assovio qualquer de triste, e o filho agora espera do alto da pedra que a água não leva.
Quando menino tropeiro da Fazenda levava as mulas para beber do rio. Era hora então de assoviar passarinho e chupar cana até não dar. Do alto da pedra vê de um lado a mulada do outro alçapão. Mais tarde às Terras Roxas do seu Tonico, seu quinhão era só meia água e dois pães duros. A mãe espera da ribeira o filho menor que volta da labuta. A casa era sempre cheia de irmãos, uns que já apareciam grandes.
Augusto é lá do Sertão das Dores.
Depois que ganhou braço tratava do cultivo. Tinha faz-sombra de palha que punha na cabeça e que não o deixava ver nem metade do nasce e morre do sol, o qual sabia que vinha e ia todos os dias da plantação. A enxada estava calejada das suas mãos, e seu pé de sua enxada. Foi abrir a terra, foi botar semente, foi quem regava as plantas e já era da colheita. A mãe espera da margem o filho mais velho que volta da planície. A recompensa do trabalho era maior mas menor que a família.
Augusto é do Sertão das Dores.
Fora prometido aumento do ganho se colhesse mais que um ano num só mês. Mas as nuvens foram egoísmo de tamanho inconfundível. Das alturas só a secura quem desceu à terra-pedra, que dar-se-ava nela nada. O patrão foi para capital levando o povo da Casa, deixando nem o padre para salvar do coisa ruim, deixando-lhe nem esperança para ver chegar a chuva. A mãe espera do céu, o filho que não quer voltar.
Augusto é o Sertão das Dores.
E a borrasca que vem depois da seca inunda a região e a faz torrente. Vai levando o alçapão junto à enxada, levando as mulas que pastavam a plantação. Leva a sua casa e a Casa do homem-bom também. Do alpendre canta o passarinho um assovio qualquer de triste, e o filho agora espera do alto da pedra que a água não leva.
terça-feira, 31 de maio de 2011
A prole do soldado
estou aqui não vê pois eu que ainda acredito dispara quando só tiver certeza
pois se sim porque disfarça na redenção do excomungado e com inimigo sob a mira
então seu dengo o faz por graça sendo pela fé que grito puxe o gatilho com frieza
ou agradece a quem lhe dê? e por meu santinho lascado para que não lhe apenas fira
uma desgraçada guerra venho lhe convercer contrário depois fuja à densa mata
pra travar durante os dias dessa sua tão grande tormenta reze por perdões alheios
esquecendo da miséria e do ódio que alimenta não me acuse de bravata
e desapego a rebeldias a cada dia do calendário que alguém lhe cobre os seios
que lhe mataram o pai já sei hereditariedade reafirmo os ideais da dança
e que vingá-lo disse "hei!" que do nome se supõe da nossa vida urbana e tola
será rancor o que apetece se o pai teve tal bondade de viver cedo e morrer à toa
e nada mais o esmorece? filho seu também dispõe? obcecados pelo som vingança
faça sim porque lhe cansa por fim já disse eu o que queria a despedida chegou já
ver toda sua esperança o horizonte já me aponta tudo dito aqui está
ser apagada pelo tempo seguindo o mar também me encontra que seja leve então seu fardo
sol chuva e firmamento quem lá disser que cria adeus à prole do soldado
pois se sim porque disfarça na redenção do excomungado e com inimigo sob a mira
então seu dengo o faz por graça sendo pela fé que grito puxe o gatilho com frieza
ou agradece a quem lhe dê? e por meu santinho lascado para que não lhe apenas fira
uma desgraçada guerra venho lhe convercer contrário depois fuja à densa mata
pra travar durante os dias dessa sua tão grande tormenta reze por perdões alheios
esquecendo da miséria e do ódio que alimenta não me acuse de bravata
e desapego a rebeldias a cada dia do calendário que alguém lhe cobre os seios
que lhe mataram o pai já sei hereditariedade reafirmo os ideais da dança
e que vingá-lo disse "hei!" que do nome se supõe da nossa vida urbana e tola
será rancor o que apetece se o pai teve tal bondade de viver cedo e morrer à toa
e nada mais o esmorece? filho seu também dispõe? obcecados pelo som vingança
faça sim porque lhe cansa por fim já disse eu o que queria a despedida chegou já
ver toda sua esperança o horizonte já me aponta tudo dito aqui está
ser apagada pelo tempo seguindo o mar também me encontra que seja leve então seu fardo
sol chuva e firmamento quem lá disser que cria adeus à prole do soldado
quinta-feira, 19 de maio de 2011
Universo cíclico
Lá, os objetos caem apenas por possuírem peso e já não valem mais que seu espatifar. Dos cacos remonta-se o ideal e do topo de uma pilha destes é possível observar o quão longe se está dos antigos altares. As venerações de um passado próximo dão vez às certezas e as indagações são tolices contestadas. Quem habita o novo lugar são os sonhos humanos, os quais também não valem mais que estilhaços, que ímpeto, ou que moral. Aliás, a perda dos valores foi um pré-requisito a todos os viajantes, bagagem desnecessária. Aqueles muito vividos percebem, logo de início, ser o momento de pisar no freio ou seguir consumindo os próprios males.
Há quem prefira tirar as almofadas para que não se desfaça o contato com a realidade. A opção de ficar coberto, esperando o fim do temporal, foi supressa depois do primeiro acidente. Porém, a incredulidade fez refém seus criadores, que agora torcem por um despertar coletivo sem nada poder fazer. É incrível que já passem dos milhares de usuários e tal utopia siga inabalada. Parece caótica sua desenvoltura performática, que mesmo obedecendo à lógica, se ramifica e bifurca. Com o passar do tempo exige mais esforço individual, mais concentração para manter os mesmos resultados, torna-se árduo prosseguir. Os desfrutes vão rareando, a fonte seca.
No primeiro fraquejar ocorre o desmonte: cacos e peças misturam-se derrubando o prisma do orgulho social. Faz chorar seus idealizadores. Então, a maior obra que ergueu o homem cai. Sem a possibilidade do exílio, retornam os mitos, os valores e as crenças. Os sonhos, tão seguros que são de si, tomam de volta seus ideais e anunciam-se como os salvadores. Humanos que são, servem apenas de bússola aos pioneiros que recomeçam a busca da liberdade que acabaram de rejeitar.
sábado, 7 de maio de 2011
Vai para o varal
Por ser o herói quem seu povo liberta
Quem sara a cicatriz ainda aberta no peito
E o vazio geral com esperança completa
Merece tanto quanto respaldo respeito
Pois que seu passado infortúnio garante
Gerar animosidade fundando um levante
Não quererá eternizar-se de tal feito
Ou ainda de maior qualquer descoberta
Sabendo sempre ser do povo o jeito
E a responsabilidade já aqui inquieta
Se conscientes contudo não agem
Se aceitação e pão levam a conformar
É que surge daí tamanha coragem
De um herói saber exigir seu lugar
Porém só embasado da total certeza
Porá palavras e não rifles à mesa
Gente cansada esperou nem estiagem
Saiu ainda chovendo para labutar
Agora reunida quer sem camuflagem
Ser reconhecida lá do posto que ocupará
À quem duvide minha plena sanidade
Da qual faço gosto até o dia que for pro céu
Lamento apenas vossa incapacidade
De compreender um verdadeiro cordel
terça-feira, 26 de abril de 2011
Vasto léxico de olho
O olho foi seco e viu de um tudo pela estrada.
Observou a paisagem, mirou o painel, tomou nota do clima e tempo; fitou de soslaio o espelho, assistiu as pessoas que cruzou, avistou lágrimas nas pessoas mas desconsiderou qualquer maior envolvimento. E como um ininterrupto operário-máquina prosseguiu, desprovido de descanso, alternando piscadelas e vistas grossas. Embaçou-se e foi dormir. Perdia sempre sua utilidade na falta de luz, perdia sempre para luz na utilidade.
Descrevendo sempre por completo cada quadro da sequência, atualizava instante a instante o perfil de objetos e seus meios-tons, a textura e temperatura. Não escapando nem tristeza de palhaço ou felicidade de poeta. Como fosse laser de três dimensões, ao apontar para minha volta recobriu as reentrâncias com presença de gente. E como um filme à meia-luz, era delicado suficiente para nunca exagerar, era exato no relato. Dependendo apenas de si o erro não teria margem.
Despossuía zoom, porém detinha definição e realce poderosos, tão, que distinguiu a nostalgia do romântico. A tela onde desenhava seus recortes e colagens era o dia-a-dia; filtrava-o de acordo com as condições de luz: claro, pretenção e escuro, tendência. Foi pré-análise de muitos beijos, e goteira de tantos outros adeus. E como foi de se esperar representou obras magníficas, que, talvez se fosse arquivo, as perpetuaria, pois não sendo, foi efêmero.
Inibiu-se diante às cores sólidas e também as ruídas demais. Isso, terrível que era, era como microscópio para achar planeta, subjugamento de seu potencial. Só podia ver inverso, e por isso, vez ou outra, eu distraía-me. Não adiantou colírio, lentes ou esfregada: quando cegou, cegou. Assim, nem retina, íris, córnea; pupila, cristalino e mácula foram tão findados em toda uma vida.
Não importou a lente convergente, multifocal ou progressiva, foi clara a divergência entre fitar e enxergar.
E também não importou mudar o foco para perto ou para longe, tornaria todas as vezes ao panorama.
sexta-feira, 15 de abril de 2011
O sufoco
Apelo ao meu pulmão para que berre o maior pedido de socorro. Suplico ao silêncio que me dê forças suficientes para chegar ao próximo grito. Imploro diariamente, não que me ouçam, mas que haja outra voz. E há, sinto a vibração chegando. Posso sentir aqui das paredes de onde me aprisionam; também da lama que me prende os tornozelos; sinto que há alguém sufocado.
Que meus carcereiros não me repreendam ainda. Meus pedidos serão apenas intervalos entre as acomodações do cotidiano: serão espaçados instantes de liberdade. Sem mais implicações na nossa engenhosa estrutura de relacionamento humano. Apesar de querer estar enganado, não vejo porque dos conservadores temerem. Cuidam muito bem do cativeiro, sem que ocorra uma ruptura sequer.
Anda coração, chora! Soluça devagar em meio as suas lágrimas, mas me conta seu desespero, me narra sua tragédia, me explica a força que têm os seus medos. Intera-me da sua necessidade de fugir daqui, e, então, iremos juntos ao que é verdadeiro.
Fico em dúvida, há outra voz ou só ouço ecos de mim? Tem de haver, pois o que digo é puro. Tem de ser alguém lançando suplícios ao vento, pois se não, porque tenho os braços prontos para agarrá-los; e respondê-los. Preciso que haja alguém vivo aqui dentro e que me ajude a pedir resgate desse domínio sórdido.
É preciso haver no mínimo uma outra garganta. Pois já não tenho força para chamar. Minha energia se deteriora ao ver a politização do sentimento, ao ver a complacência com que assistem ao horror, e a rebeldia, tão aclamada outrora, servindo-se de jantar ao predador.
É preciso, eu preciso
É preciso, eu preciso
sexta-feira, 8 de abril de 2011
O sol, a praia, deixou só
O vento bateu foi para gente se secar!
As aves que voam só cumprem seu papel
Cabelo, chinelo e o protetor solar
O amor que sinto, só não faz falta para quem tem
Solidão é nossa amiga
bateu no peito e agora fica
A onda desmancha areia e traz anzol
Penteia e calça para não se queimar
Verão, bem-vindo à tristeza de minha inspiração
Mas faça um batuque na mesa
que eu não esqueço a beleza
de compor um simples samba tropical
Podendo eu voltar no tempo
Careca, descalço e negão
Um naufrágio já é audiência
Pescador que perdeu a licença
assiste passivo a televisão
segunda-feira, 14 de março de 2011
Amar na velocidade da luz
Voltou do trabalho mais cedo que o normal. O elevador subiu, 4° andar, porta, chave, geladeira. Caminhando até o quarto, - Amor, viu sapato no chão, roupa e traição. Tão veloz chegou a vontade de chorar, foi embora. Embora fosse ele homem ausente, o casamento foi há cinco meses. Na mesma noite o bar dava-lhe raiva. Tequila, sinuca, a vontade de trair, - mas como se já nada existe. Vodca, briga, expulsão, outro bar, boa noite, ombro para chorar. Já era manhã quando dormiu. Ainda de manhã acordou, ressaca, saída. E no trabalho, abandonado, dá-se conta de que já não passa de um alcoólatra .
Abandonada pelo estranho que afagou, desesperançou-se toda. Foi ao centro cirúrgico, vestiu jaleco, bisturi, - A paciente precisa de repouso, almoçou. Deu-se folga o resto do dia e foi ao parque ver o fim de tarde, veio o sol, vieram pombos, foi-se o sol e trouxe a lua. Era já por muitos redeixada. Antes, resolveu naquela manhã que iria mudar, mudou, não procurou se apaixonar, ofereceu-se ao marido da paciente, deu-lhe telefone, marcou na casa dela.
Reparou que o marido esticava o tempo necessário no hospital. Ouvia que dormia à cabeceira, acordava não o via, ligou certa vez atendeu a doutora, era o fim. Não se recuperou bem da cirurgia e usava cadeira de rodas. Doíam as costas, uma pílula, doíam os braços, uma pílula, doía o coração, antes de tomar as pílulas necessárias internou-se numa clínica. Depois de um ano, liberada. Depois de cinco, dá palestras a outros viciados. Conheceu nas reuniões um coração partido. E abandonado.
*Só um bolo de histórias concomitantes que alguém perdeu.
Abandonada pelo estranho que afagou, desesperançou-se toda. Foi ao centro cirúrgico, vestiu jaleco, bisturi, - A paciente precisa de repouso, almoçou. Deu-se folga o resto do dia e foi ao parque ver o fim de tarde, veio o sol, vieram pombos, foi-se o sol e trouxe a lua. Era já por muitos redeixada. Antes, resolveu naquela manhã que iria mudar, mudou, não procurou se apaixonar, ofereceu-se ao marido da paciente, deu-lhe telefone, marcou na casa dela.
Reparou que o marido esticava o tempo necessário no hospital. Ouvia que dormia à cabeceira, acordava não o via, ligou certa vez atendeu a doutora, era o fim. Não se recuperou bem da cirurgia e usava cadeira de rodas. Doíam as costas, uma pílula, doíam os braços, uma pílula, doía o coração, antes de tomar as pílulas necessárias internou-se numa clínica. Depois de um ano, liberada. Depois de cinco, dá palestras a outros viciados. Conheceu nas reuniões um coração partido. E abandonado.
*Só um bolo de histórias concomitantes que alguém perdeu.
quarta-feira, 9 de março de 2011
Sentença da rotina
Canta. Pois não há no mundo voz
tão rouca que caiba em tão belo pescoço
que cobre a garganta cheia de nós
e cheia de nós que caimos no poço.
Pois se não vivo, morro
Chora. Para ver o desfile das mais belas
tempestades encantadas de harmonia
descendo abruptamente, apagando velas
e centelhas que faiscam da noite vazia.
Pois se não vivo, morro
Ora. Prontamente, não havendo miséria
à culpa divina se aplica tal merecimento e
atormentado da pobreza da humana epopeia
fatores todos levam ao nosso julgamento.
Pois se não vivo, morro
Ama. Prefere o poeta fazer.
Disposto a tudo olvidar por você.
Intérprete da alma; disse o condenado
Pois se: não vivo, amado.
tão rouca que caiba em tão belo pescoço
que cobre a garganta cheia de nós
e cheia de nós que caimos no poço.
Pois se não vivo, morro
Chora. Para ver o desfile das mais belas
tempestades encantadas de harmonia
descendo abruptamente, apagando velas
e centelhas que faiscam da noite vazia.
Pois se não vivo, morro
Ora. Prontamente, não havendo miséria
à culpa divina se aplica tal merecimento e
atormentado da pobreza da humana epopeia
fatores todos levam ao nosso julgamento.
Pois se não vivo, morro
Ama. Prefere o poeta fazer.
Disposto a tudo olvidar por você.
Intérprete da alma; disse o condenado
Pois se: não vivo, amado.
quarta-feira, 12 de janeiro de 2011
Confissão de uma péssima testemunha
Não era um olhar cativante, indecifrável ou de pura beleza; eram Olhos aqueles olhos.
Nunca entendi como dizem que olhares podem dizer tanto - e agora duvido que olhares possam, até mesmo, chegar a se expressar - pois diante dos dois olhos que encontrei não acredito mais na comunicação humana.
Me distraem as pessoas com seus destinos e seus modos diferentes de andar, me distrai tanta coisa pelo caminho que faço para casa, que vou esquecendo as cores e relevos, mas tento não esquecer daqueles olhos. Por isso escrevo descrevendo o que vivi, por isso não me aguento sentir emoção tão grande sozinho, por isso me atrevo mesmo sabendo que fazem poucos minutos e já sinto que não se poderá mais, na vida, reescrevê-los.
Me distraiu o tempo que fiquei inerte ao sair da exposição - aberta à qualquer um e deserta de qualquer outro - e não conseguia me lembrar de minutos anteriores. Lá vi quadros e rabiscos nas paredes, colagens e texturas, mas me intrigaram mesmo desenhos de um João Maria; talvez, pela crítica social embutida numa caricatura da cidade. Parado e como sempre um pouco distante dos desenhos (ou pinturas, não conheço sequer isso de Arte) observava as imagens de pessoas gigantes e carros anões, estes nas calçadas e aquelas no meio da rua. De um dos desenhos mal lembro o nome.
Me distraem compromissos e as sujeiras ribeirinhas, me distrai tudo; e tudo não quer que eu lhe conte de tais olhos. Olhos que pertenciam à uma morena, mas dela também já esqueci para dedicar-me a recuperá-los. O quadro tinha nem quarenta por quarenta centímetros, a tela era um papel rasgado de um desenho maior. Porém os Olhos mediam mais; tais, mediam não-sei-quanto. Tentei pôr todas as sabedorias que tenho empilhadas, mas eles mediam mais: Mal cabiam na exposição, quiçá no quadro.
E me distraí outra vez por pensar que dos meus olhos viria choro - não veio. Os Olhos, que com os meus vi, eram a prova viva do que me diziam; eles me contavam algo e em seguida explicavam com detalhes os argumentos dos quais eu já nem me lembro, pois me distraem os próprios olhos. Imaginei, do artista, uma certa petulância ao expor olhos, assim, sem aviso prévio. Quis reclamar. Olhos me fizeram esmorecer a revolta.
Vão fugindo da minha lembrança porque agora já faz horas que os vi. Talvez, um pouco mais e até esqueça deles. Sempre me distraio quando escrevo, de modo que findo por esquecê-los, quando justamente faço isso pra eternizá-los.
E que agora, sem mais tardar, me acusem da miséria humana, de haver no mundo poluição tamanha ou da efemeridade dos sentimentos; e que me denunciem de tudo isso, mas sem esquecer de acrescentar uma última culpa: O crime de não contar a cada um que vive, como eram esclarecedores, sinceros, solidários e usurpadores, aqueles olhos. A tal ponto que roubaram de mim qualquer melhor descrição, roubaram todos os seus detalhes de minha lembrança, e também as minhas forças, que sem elas já nem me aguento vivo.
Nunca entendi como dizem que olhares podem dizer tanto - e agora duvido que olhares possam, até mesmo, chegar a se expressar - pois diante dos dois olhos que encontrei não acredito mais na comunicação humana.
Me distraem as pessoas com seus destinos e seus modos diferentes de andar, me distrai tanta coisa pelo caminho que faço para casa, que vou esquecendo as cores e relevos, mas tento não esquecer daqueles olhos. Por isso escrevo descrevendo o que vivi, por isso não me aguento sentir emoção tão grande sozinho, por isso me atrevo mesmo sabendo que fazem poucos minutos e já sinto que não se poderá mais, na vida, reescrevê-los.
Me distraiu o tempo que fiquei inerte ao sair da exposição - aberta à qualquer um e deserta de qualquer outro - e não conseguia me lembrar de minutos anteriores. Lá vi quadros e rabiscos nas paredes, colagens e texturas, mas me intrigaram mesmo desenhos de um João Maria; talvez, pela crítica social embutida numa caricatura da cidade. Parado e como sempre um pouco distante dos desenhos (ou pinturas, não conheço sequer isso de Arte) observava as imagens de pessoas gigantes e carros anões, estes nas calçadas e aquelas no meio da rua. De um dos desenhos mal lembro o nome.
Me distraem compromissos e as sujeiras ribeirinhas, me distrai tudo; e tudo não quer que eu lhe conte de tais olhos. Olhos que pertenciam à uma morena, mas dela também já esqueci para dedicar-me a recuperá-los. O quadro tinha nem quarenta por quarenta centímetros, a tela era um papel rasgado de um desenho maior. Porém os Olhos mediam mais; tais, mediam não-sei-quanto. Tentei pôr todas as sabedorias que tenho empilhadas, mas eles mediam mais: Mal cabiam na exposição, quiçá no quadro.
E me distraí outra vez por pensar que dos meus olhos viria choro - não veio. Os Olhos, que com os meus vi, eram a prova viva do que me diziam; eles me contavam algo e em seguida explicavam com detalhes os argumentos dos quais eu já nem me lembro, pois me distraem os próprios olhos. Imaginei, do artista, uma certa petulância ao expor olhos, assim, sem aviso prévio. Quis reclamar. Olhos me fizeram esmorecer a revolta.
Vão fugindo da minha lembrança porque agora já faz horas que os vi. Talvez, um pouco mais e até esqueça deles. Sempre me distraio quando escrevo, de modo que findo por esquecê-los, quando justamente faço isso pra eternizá-los.
E que agora, sem mais tardar, me acusem da miséria humana, de haver no mundo poluição tamanha ou da efemeridade dos sentimentos; e que me denunciem de tudo isso, mas sem esquecer de acrescentar uma última culpa: O crime de não contar a cada um que vive, como eram esclarecedores, sinceros, solidários e usurpadores, aqueles olhos. A tal ponto que roubaram de mim qualquer melhor descrição, roubaram todos os seus detalhes de minha lembrança, e também as minhas forças, que sem elas já nem me aguento vivo.
segunda-feira, 10 de janeiro de 2011
E finalmente, amar deveria ser coisa toda
Contar a alguém, durante a madrugada, o amor que se sente deveria ser o amor na mais pura essência; e no mais puro aroma. Contar ao mesmo alguém que o amor só vale quando é amado, porque não basta ser dito, é dizer a ele que amor demais está sendo feito; amor demais, que não existe, pois amor sendo essência está sempre na medida exata: não transborda.
Não transborda, mas também não cabe; corpo humano é tão pequeno pro amor na mais pura essência. Corpo humano cabe nem mais que um trezentos quilos, amor sendo toneladas, estoura corpo humano e o deixa em pedaços quando teimam em pô-lo num só peito de homem; Corpo humano, dessa maneira, cabe não mais que um amor. Cabe não mais que um amor, pois um amor precisa de dois corpos; corpo humano é feito então pra caber meio amor.
Meio amor é o meu amor. A metade outra é sua. Amor que quis por num só peito meu de homem, era pra que um dia pudesse dar a alguém; mal sabia eu que nunca pode-se pôr amor em peito de um só. Mas tive sorte de aparecer um corpo humano outro a se juntar ao meu.
Considerando o contrário do sim o não e o do não o sim, amor só pode ser talvez. Talvez de tão contrário a si, só possa ser o mesmo amor. Assim, o peito meu estala de amor; assim também, o peito meu quer mais amor pra ser estalado. Quando corpo humano explode de amor, só ele sabe o que sentiu, e apesar de tal explosão ficar marcada no corpo, o amor ninguém saberá que foi. E nunca corpo humano sentirá o mesmo amor.
Tal amor a qual me refiro, dá-me uma beleza branca, não sei nem se sabe o que me causa; mas tal amor é o da mais pura essência - igual só há dentro a um templo maia - e quero mais. E, um dia, será ela a culpada quando meu corpo humano explodir e, estalado, espalhado e jazido, me encontrarem. Mas a culpa que ela terá será só digna de contemplação; será culpada de amar sem fim. E se julgada responsável por explodir peito de homem com tanto amor, condenada estará a fazer do mesmo homem o mais feliz da espécie.
*
A tempestade relampeja e com seus fechos de luz, que me acordam na noite, faz aumentar a tensão que é escutar seus rugidos. Mas tempestade não assusta; tempestade não derruba amor.
Não transborda, mas também não cabe; corpo humano é tão pequeno pro amor na mais pura essência. Corpo humano cabe nem mais que um trezentos quilos, amor sendo toneladas, estoura corpo humano e o deixa em pedaços quando teimam em pô-lo num só peito de homem; Corpo humano, dessa maneira, cabe não mais que um amor. Cabe não mais que um amor, pois um amor precisa de dois corpos; corpo humano é feito então pra caber meio amor.
Meio amor é o meu amor. A metade outra é sua. Amor que quis por num só peito meu de homem, era pra que um dia pudesse dar a alguém; mal sabia eu que nunca pode-se pôr amor em peito de um só. Mas tive sorte de aparecer um corpo humano outro a se juntar ao meu.
Considerando o contrário do sim o não e o do não o sim, amor só pode ser talvez. Talvez de tão contrário a si, só possa ser o mesmo amor. Assim, o peito meu estala de amor; assim também, o peito meu quer mais amor pra ser estalado. Quando corpo humano explode de amor, só ele sabe o que sentiu, e apesar de tal explosão ficar marcada no corpo, o amor ninguém saberá que foi. E nunca corpo humano sentirá o mesmo amor.
Tal amor a qual me refiro, dá-me uma beleza branca, não sei nem se sabe o que me causa; mas tal amor é o da mais pura essência - igual só há dentro a um templo maia - e quero mais. E, um dia, será ela a culpada quando meu corpo humano explodir e, estalado, espalhado e jazido, me encontrarem. Mas a culpa que ela terá será só digna de contemplação; será culpada de amar sem fim. E se julgada responsável por explodir peito de homem com tanto amor, condenada estará a fazer do mesmo homem o mais feliz da espécie.
*
A tempestade relampeja e com seus fechos de luz, que me acordam na noite, faz aumentar a tensão que é escutar seus rugidos. Mas tempestade não assusta; tempestade não derruba amor.
quinta-feira, 6 de janeiro de 2011
LXIX
A noite era clara; fiquei cerca de uma hora, entre o mar e a sua casa. Você aposto que nem sonhava comigo. Entretanto, eu quase que ouvia a sua respiração. [...] O mar batia com força, é verdade, mas o meu coração não batia menos rijamente; — com esta diferença que o mar é estúpido, bate sem saber por que, e o meu coração sabe que batia por você.
Carlos Maria
[adaptação]
terça-feira, 4 de janeiro de 2011
Da sobremesa, a raspa da lata
Pude ver no decorrer dos planos que o melhor plano não há
e ver também, em cada um, a realização
Posso ver que dos sonhos nascem frustrações ao seu fim
porém o seu durante é o que não se encontra em nenhum lugar
Se de cada plano seguiu-se uma viagem, viagem todas foram boas
e melhores foram quanto mais duraram - pois não há forma outra de calcular
Valor dos sonhos. Qual maior? engana-se quem calcula
sonho é tudo; e sonhe tudo
Se achar, que da vontade de comer, o melhor for a comida
perderá o encanto que o aroma roubado da panela lhe dá
Posso assim ver então os caminhos da vida, caminhos apenas; não há partida
são como vontades de comer; coma-os e não mais os terá
Pode deduzir uma viagem se houver destino
Pude deduzir que meu destino era a viagem
e nela me encontro agora; na viagem da minha vida
Há quem acorde no meio da noite de um sonho perfeito
acordo de cada sonho com uma noite perfeita a me olhar
Poderá amar e esperar ser amado; ou como eu: amar e esperar amar
assim, amor é emprestado - dado quando quer ser devolvido
Isso é mania do destino, sempre a nos entregar algum coração ao fim das contas
mania minha é entregar coração a quem me tem agora
Pude esperar de quem me deu a mão, que me desse logo a outra
mas antes do encontro dei os braços e as pernas, coração, alma e canela
Posso do tempo nada esperar, já que a ele ando nada devendo
pois se vier, logo e de repente, me levar... pelo mundo terei ficado
Faço parte do mundo porque sempre o quis pra mim; do mesmo jeito:
fará parte do futuro pois sempre o quis perto de ti
Poderá também, a qualquer momento, ver a viagem maior que a chegada
e se reconher que o caminho já é bonito por si só: será então só alegria!
Tas a ver a linha do horizonte?
A levitar, a evitar que o céu se desmonte
e ver também, em cada um, a realização
Posso ver que dos sonhos nascem frustrações ao seu fim
porém o seu durante é o que não se encontra em nenhum lugar
Se de cada plano seguiu-se uma viagem, viagem todas foram boas
e melhores foram quanto mais duraram - pois não há forma outra de calcular
Valor dos sonhos. Qual maior? engana-se quem calcula
sonho é tudo; e sonhe tudo
Se achar, que da vontade de comer, o melhor for a comida
perderá o encanto que o aroma roubado da panela lhe dá
Posso assim ver então os caminhos da vida, caminhos apenas; não há partida
são como vontades de comer; coma-os e não mais os terá
Pode deduzir uma viagem se houver destino
Pude deduzir que meu destino era a viagem
e nela me encontro agora; na viagem da minha vida
Há quem acorde no meio da noite de um sonho perfeito
acordo de cada sonho com uma noite perfeita a me olhar
Poderá amar e esperar ser amado; ou como eu: amar e esperar amar
assim, amor é emprestado - dado quando quer ser devolvido
Isso é mania do destino, sempre a nos entregar algum coração ao fim das contas
mania minha é entregar coração a quem me tem agora
Pude esperar de quem me deu a mão, que me desse logo a outra
mas antes do encontro dei os braços e as pernas, coração, alma e canela
Posso do tempo nada esperar, já que a ele ando nada devendo
pois se vier, logo e de repente, me levar... pelo mundo terei ficado
Faço parte do mundo porque sempre o quis pra mim; do mesmo jeito:
fará parte do futuro pois sempre o quis perto de ti
Poderá também, a qualquer momento, ver a viagem maior que a chegada
e se reconher que o caminho já é bonito por si só: será então só alegria!
Tas a ver a linha do horizonte?
A levitar, a evitar que o céu se desmonte
segunda-feira, 3 de janeiro de 2011
É bobagem não aceitar
Bobagem a força que fazemos quando queremos ter uma ilusão
futuro é ilusão; quando chega nem fazemos força para ver que nunca houve
Ficar para sempre aqui ou ali, mas pra sempre. Ficar, só ficar já deve ser
bobagem é, sem abrir a mente e a lente, viajar o mundo
Bobagem ser humano e não tentar de tudo
não perguntar ao mudo se ele disse ao surdo
que o amor se encontra no aroma de cada bobagem.
Bobagem a tal chance única, de ter na vida um só encontro
pessoa certa para uma vida, pessoa que não dará a despedida
Bobagem nossa achar o amor um milagreiro: engenhoso artesão
que transforma lágrima em sorriso; a princesa numa rã
Bobagem que digam não as oportunidades.
Escolha feita não tem volta, mas... bobagem! tem desculpas.
Bobagem não ser de todo mundo, e pertencer a só um
deve mesmo ser bobagem viver sem se entregar à alguém
Bobagem a solidão que nos envolve, e complica o mundo
Bobagem uma canção que diga tudo
E ter pra não usar, bobagem: sair pra não jantar.
Bobagem mais que tudo é ser eterno
para um dia não ter vontade de fazer bobagens
Bobagem maior que o eterno
é não perdoar e depois sentir saudade!
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